As memórias

ago
2010
10

escrito por | em 3minutos | 1 comentário

Já se vão mais de 8 anos desde que eu comecei esse blog. Somente semana passada eu terminei de publicar os arquivos que se perderam no tempo, em outras versões e em outros servidores, mas que de uma forma ou outra consegui recuperar. Textos de 2002 em diante, sendo que nem todos tiveram uma segunda chance: paixões antigas, alguns mimimis com a vida, ou coisas que iam além dos limites da idiotice. Perderam-se também alguns textos bons, mas muito poucos.

Mas poucos pra realidade dos dias de hoje. Lembro muito bem de me orgulhar daqueles arquivos antigos a cada nova publicação. E hoje, quando releio grande parte deles, às vezes tenho até vergonha – seja de mim, das minhas opiniões, ou sobre esse ou outro contexto no qual eu gastava muito tempo pra pouco resultado. Coisas que, olhando hoje, não se justificam, mas que quando eram parte da minha rotina, valiam cada palavra. Foi esse passar dos anos que me fez trazer ao blog não o desejo de milhares acessos, a busca por novos amigos, nem a popularidade imbecil que a internet permite aos que vivem pra ela, e não com ela. Tornou-se sim um registro de vida. Um scrapbook de pequenas memórias que por algum motivo mereceram registro. Serviu às vezes de divã, ou de válvula de escape. Outras vezes, de vitrine para um ou outro trabalho do qual tive orgulho de criar ou participar. Sempre dão as caras por aqui os de sempre, há anos. E isso já me deixa feliz. Escrever é um bom hábito – por sinal, dos bons hábitos que não possuo, como praticar esportes, ler bons livros ou dormir oito horas por dia, escrever talvez seja a forma que eu encontro de fazer as pazes comigo mesmo.

Só pra quebrar um pouco tanto texto. Então, que seja com uma boa música, de uma boa banda, e que eu já curtia desde 2002, pra não perder o contexto…

Do primeiro ao último textos, as diferenças são dantescas. E só aumentam. Não sou melhor hoje do que era há 8 anos, mas muitas são as diferenças. Esse tipo de percepção não aumenta só a autocrítica (quanto àquilo que fomos, e que somos), mas te permite notar que nem todas as coisas e pessoas mudaram tanto assim. Algumas, inclusive, falam e tratam da vida hoje como eu tratava duas Copas atrás. Os discursos destoam, e a paciência encurta. Acho que eu não seria tão paciente ou tolerante com o Masili dos 22 anos, falando aquele monte de besteira hoje em dia. Crescer significa acumular esse repertório quase que instantâneo de mudanças. Aprender com elas. Mudar pontos de vista. Tomar novos rumos. Nem sempre os que acompanhavam seus passos antes querem acompanhá-los agora. Amigos de infância, que eram tantos, hoje cabem nos dedos de uma mão. Colegas de trabalho. Membros da família. Músicas prediletas. Lugares favoritos. Chegam, saem, voltam, somem, reaparecem. Mudamos sempre, e mudam com a gente.

Foi-se um ano desde a maior mudança da minha vida, e daquilo vieram outras tantas. Lidar com a morte, a vida, a mudança de família, de endereço, de sonhos, de singular pro plural. Leio hoje aqueles textos e vejo que os parâmetros de grandes conquistas foram-se por água. O beijo da menina da faculdade não é nada comparado à prestação do apartamento; empregos vão e vêm, e nada é definitivo; deixa-se de aprender em anos, aprende-se muito em dias. Pessoas deliciosas tornam-se um pé no saco quando não se renovam, e são chutadas pra escanteio, e o caminho inverso idem. Meninas emburradas ganham seu coração e dividem uma vida.

É muito gostoso notar essas mudanças. Lê-las, procurá-las nas pessoas de hoje, e encontrar. Notar que cada parágrafo, aos poucos e numa linha contínua, fazem sim muito sentido. Permitir-se mudar de opinião, e de prisma. Ao invés de ter sempre a mesma reação a cada crítica, vestir uma roupa diferente por um momento e experimentar ser outra pessoa. Encantar-se com um passo adiante, que nem sempre é uma mudança enorme, mas somente um “sim” no lugar do “não”, o respirar por dois segundos a mais, e dar à razão o lugar da fúria. Acertar o passo. Esse meu velho hábito aqui não modela o abdômen, nem me deixa mais ou menos informado, inteligente ou interessante. Mas é sim o melhor espelho desse caminho de cada uma das minhas escolhas desses últimos oito anos e meio.

Notar tudo isso é somente consequência.

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