Vive La France!

jan
2009
13

escrito por | em [Viagem] Argentina 2008/2009 | 4 comentários

26/dez/2008 – dia 1
Recoleta, Buenos Aires

Desculpem o hiato. Nessa terra também se trabalha…

Muito bem. A primeira volta no quarteirão e a primeira Quilmes fizeram com que a percepção de que em terras estrangeiras nunca dantes visitadas os conceitos de caro e barato são coisas completamente desconhecidas. E que pra descobrir o que de fato custa quanto, teríamos que andar durante algum bom tempo e visitarmos outros pontos de Buenos Aires pra sabermos se de fato uma garrafa de cerveja vale $15, e uma daquelas pequenininhas de água vale $5 (sim, cincão num golinho d’água – elemento de desejo que ganhará sua citação especial futuramente).

Com notas graúdas no bolso, fomos procurar um banco para tirar nosso dinheiro. Olhamos para um lado, e lá estava: ITAÚ; olhamos para o outro, e lia-se BANCO DO BRASIL; ali do lado, um tal SANTANDER; mais à frente, CITIBANK. Então os patos (nós) olham um pro outro e dizem a patética sentença:

– Precisamos ver onde fica o Bradesco.

Pausa dramática e respiro filosófico:

Caro amigo que lê este blog, pense comigo: o Bradesco é o segundo maior banco privado do Brasil. Quando ainda estávamos aqui, ambos fomos autorizados por nossos gerentes a fazer transações internacionais utilizando nossos cartões (de débito, porque não temos cartões de crédito). Quando você se vê circundado por bandeiras conhecidas no bairro que corresponde ao Itaim cucaracho, obviamente você imagina que vá encontrar um Bradecompleto ali, virando a esquina.

Detalhe importante a ser citado: quando autorizam uma “transação internacional” com seu Visa Electron, você imagina que essa trolha vá funcionar em qualquer máquina em que esteja escrito Visa Electron”. Testei tal tese no serviço de remis assim que pegamos nossa bagagem, ali mesmo no aeroporto de Ezeiza. E a mensagem após você digitar o PIN na maquininha foi “DENEGADO”. Ou seja, nada de Visa Electron (eu faria mais dois testes até o final da viagem, pra comprovar).

Voltando…

Uma vez que nosso Visa Electron não funcionava na capital argentina, nada mais óbvio do que tirar dinheiro em espécie na agência bancária filiada à sua bandeira. Fomos até o guichê de informações turísticas, e ali perguntamos sobre o Bradescão. Não estávamos preparados para a resposta tétrica:

– Não existem Bradescos na Argentina…

Bernard Herrmann tocaria o tema de Psicose, dadas as nossas caras de “…”. Como assim amigo, NÃO EXISTEM AGÊNCIAS DO BRADESCO NA ARGENTINA E NOSSO VISA ELECTRON NÃO FUNCIONA?

Saímos desnorteados. Eu tentando pensar da forma mais positiva (e rezando pra Embaixada ainda estar aberta), e a Debs concluindo que nossa viagem tinha acabado ali, e que seríamos motivo de chacota dos representantes verde-amarelos caso fôssemos mesmo pedir arrego. Adentramos a Recoleta e andamos em linha reta (mas sem rumo), nos lamentando por sermos tão tapados e imbecis de não nos preocuparmos se teríamos ou não uma coisa tão trivial como DINHEIRO a mais de 2 mil quilômetros de casa.

Então, quando as esperanças já haviam voltado pro Brasil e nos abandonado no país de Diego Maradona, surge um sinal divino – daqueles que brilha, toca harpa e manda até um calorzinho:

Debaixo dessa placa, uma porta de vidro. Nessa porta, um conjunto de bandeirinhas. E dentre essas bandeirinhas, o sinal que precisávamos para impedir o vôo de volta da esperança:

Em algum momento, a gerente do meu Bradesco citou a tal REDE PLUS como a representante das agências do Bradesco na Argentina (e em outros países também). A gerente do Bradesco da Debs não disse nada. E pra você, que como eu nunca havia reparado que esse loguinho safado está impresso atrás do seu cartão de débito, sim, ELE ESTÁ.

Vendo aquele sinalzinho ali, entramos. Botei o maldito cartão no caixa, e recebi um lindo “BIENVENIDO MARCELO SPACACHIERI MASILI, digite seu PIN”. Botei minha senha, e surge outra tela mágica: “SELECIONE O IDIOMA – ENGLISH / ESPAÑOL”. Eu já começava a pensar em esboçar um sorriso. Escolhi a opção seguinte: WITHDRAW/CHECKING ACCOUNT. Insira o valor. Bati lá quarentinha, e antes do ENTER, rezei um Pai Nosso. Antes de concluir, o maldito caixa me perguntou se eu queria um recibo da transação (ou um atestado de burrice por escrito, caso aquela porcaria não funcionasse). SIM, AMÉM.

O barulhinho das notas sendo contadas foi orgástico. A tremedeira virou um belo palavrão proferido em tons que eu jamais pensei poder alcançar, enquanto a Debszinha ria chorando de alívio. Tiramos uma graninha cada um, agradecendo a todos os Deuses que conhecíamos (incluindo aí Michel Platini e Alain Prost, pois a França nunca mais seria vista sob os mesmos olhos após salvar a nossa vida). E depois desse sufoco que qualquer descrição não alcança a tensão passada, a conclusão era mais do que óbvia:

– Merecíamos uma segunda Quilmes, só pra começar. Nossa viagem estava definitivamente inaugurada, e agora era pra valer…

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Trackback e pingback

  1. Alpacas também falam “fué”… | masili | 3minutos
    [...] do que fizemos na Argentina, quando eu e a Debs tivemos um surto cervejístico após o fim da “saga…

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