Esaú, Jacó e eu

fev
2007
19

escrito por | em Vidinha | Nenhum comentário

Eu nunca fui adepto da leitura dedicada. Daquela que você se aprofunda no texto, reflete em cada linha. Pra ser bem, mas bem sincero mesmo, eu leio mal. Leio pela internet, leio o Lance! quando posso, e vez ou outra me empolgo a ler um livro que chame muito a minha atenção. E de que forma o faria? Pela capa, pela repercussão, por algum comentário muito empolgado, enfim. Às vezes eu sigo o empurrão e encaro o desafio.

Busco as páginas de papel amarelo. Páginas brancas me irritam um pouco, mas metade dos meus livros (os quais, todos lidos) possuem páginas em papel branco, portanto não é aí que mora minha dificuldade. A diagramação também pode ser um diferencial: entrelinhas que respeitem o agito e o desconforto do ônibus, os buracos das ruas da cidade, e os meus olhos com astigmatismo.

Meu Saramago permanece inacabado. E não tenho muitas esperanças de resgatá-lo tão cedo. Ele não possui parágrafos, mas em compensação extrapola nas minúcias. Detalhes e mais detalhes que certamente não relevam em nada a história. Lembro que Machadão era assim, mas nunca vi uma foto de Machado sem que fosse aquela que você também conhece. Machado de Assis nasceu velho, há séculos atrás, e como todo senhor de idade explica até o inexplicável e faz uma hora durar três semanas.

Já li até o tal Sidney Sheldon – aquele dos romances xerox, onde quem leu um leu todos. Então li todos os Sidney Sheldon, e há 12 ou 13 anos me pareceu fácil. Entertainment mesmo, coisa de minissérie de TV a cabo. Ação non-stop até um final que beira o óbvio, e segundos depois você esquece de toda a história. Não emociona, não marca, nada. Ocupa espaço.

Não li o Código Da Vinci. Não li Dan Brown, pois me pareceu tão fácil quanto Sheldon. Mesmo com um filme bem do interessante e que valeu a pipoca. A gente cresce, e os gostos mudam. Se não fosse aquele And Justice For All há 17 anos, eu não estaria aqui, ouvindo Lenine e Suzano hoje. Tudo parte de uma semente, e dela nasce ou não um hábito.

Por muito tempo culpei Machado, e seu Esaú e Jacó. Páginas brancas quase transparentes, e letras em Times Black. Um livro com entrelinha de bula de remédio, enorme pra uma criança de 8 ou 9 anos e com uma língua portuguesa que poucos conhecem. Não é culpa da língua, nem de Machado. A culpa também era minha, de lê-lo desatento, desinteressado. Achar que a História do Brasil nunca seria atraente naquele livro impresso em preto e ocre. Os modelos e o ambiente de estudo descuidados contribuiram pra tudo isso, e fez-se a zona.

Talvez seja esse um dos motivos de eu gostar tanto de criança. De querer lotar de cores a vida das pessoas, e de não fugir do meu autor preferido – ainda – que é Carl Barks. Redator excelente, um maravilhoso e completo roteirista (cuja base do trabalho vinha da National Geographic – vejam só que beleza de base essa), e um homem que não precisou sair do rancho pra conhecer o mundo. Foi sim minha leitura obrigatória desde os 4 anos, e é até hoje. Seus quadrinhos ganharam novas cores, e um papel que respeita mais sua obra do que o jornal de sempre. Eu fico feliz.

E se não fosse ele não existiria minha diminuta biblioteca, nem a vontade de mergulhar nos livros da moça. Ou ainda de vez ou outra me encontrar procurando aleatoriamente numa megastore da vida o significado pras minhas confusões. Eu não sei por onde começar essa nova exploração, de um hábito do qual já tenho meio gosto (afinal, eu escrevo aqui).

Meu primo me emprestou o Metallica, e um Guns N’ Roses. Vivia comentando das duas bandas, e depois de mais 3, e mais 5, e então um dia sintonizei a MTV e aquilo me pareceu bem novo, mas um tanto familiar. Passar dos dois punhados aos dois milhares de sons e nomes não foi das tarefas mais difíceis, e disso vieram os hábitos, os gostos e desgostos. Os ouvidos permanecem abertos até hoje.

E talvez seja sim uma boa hora pros olhos fazerem o mesmo. Afinal, com cinco sentidos, quem se contenta em refinar só um certamente pode ser rotulado de preguiçoso. Está aberta a temporada de sugestões, nível básico.

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