Aos oito minutos

nov
2006
16

escrito por | em Cinema | Nenhum comentário

Parece utopia essa vontade de viver intensamente que impera na gente, insaciável e ao mesmo tempo tão volúvel que indiscriminadamente abrimos mão dela quando precisamos atender ao cotidiano, à rotina, à burocracia e à política. Esses dois filmes aqui embaixo, por exemplo: parece besteira adolescente, saudosismo juvenil oitentista. Aí qual a surpresa ao ver que uma das histórias é sobre alguém que dribla essas coisas todas em busca de um dia com os amigos, e outro sobre alguém capaz de mudar drasticamente pelo simples fato de conhecer melhor e com um mínimo de atenção as pessoas que estão por perto.

Agora eu estou aqui, assistido novamente ao filme do Cazuza – aparentemente (e não me parece ficção, ao menos na maior parte do tempo) outra pessoa que não cansava de viver o que fosse. E se foi embora rápido ou não, cada um arca com as conseqüências daquilo que abraça.

Esse ritmo frenético não é coisa fácil de se encarar. Eu que não gostava de dormir hoje sou tão apaixonado pela minha cama quanto por aquelas noites em São Paulo que vez ou outra se repetem. Que era tão moralista e hoje não me importo tanto assim em deslizar por coisas que já me pareceram imaculadas algum dia. Algumas, não todas.

E nem basear a vida em filmes ou músicas. Cada um sabe onde mora o seu romantismo, a quantas funciona seu coração e quais riscos pretende correr. Dá medo encontrar pelo caminho a doença, a desilusão, o desgosto. A poesia, a música, os filmes, as cartas, tudo isso emociona muito e faz todo o sentido. Mas uma coisa parece certa: ninguém deseja viver a vida pela metade – nem só de arte, nem só de diversão. Velho, moço, doente, saudável – a gente quer mesmo é aproveitar o que há de bom nessa vida, o tempo todo. E nenhum esforço pra apagar ou corrigir o que desanda, o que parece não funcionar direito é pouco ou inválido.

Eu tenho medo de algum dia ir embora e deixar alguém que eu tanto quis bem infeliz. Medo de perder os bons detalhes, e de não poder levá-los comigo. Medo que também faz parte de tudo isso, e que contra ele eu perco um pouco mais da minha relação de amor com a minha cama, escrevendo um texto pra desejar dias melhores e mais cores, hoje e sempre.

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