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Daquelas coisas que acontecem de repente. Sexta a Debs me encaminha um e-mail com o convite pra um show que a Caixa (sim, onde ela trabalha, e pelo jeito para sempre trabalhará) promoveria ontem, em comemoração aos 150 anos da instituição. E perguntou se eu queria ir. O convite foi distribuído, a coisa toda era de graça, e o show era um tributo ao Chico Buarque, enfim… me pareceu uma boa ideia, mesmo não sendo da minha total preferência o cast de artistas que fariam o tal show. A imagem abaixo diz muito sobre tal desconfiança…

Explica Daniela: que porra de pose é essa?

Eu tenho dois cds da Roberta Sá na minha máquina lá em casa. Canta bem a indivídua, mas nada que me faça sentir saudades quando fico tempos e tempos sem ouvir. Paula Lima…? Sim, eu ouvi um pouco de Funk Como Le Gusta na vida (até no show deles eu fui), mas não lembro dela. Margareth Menezes, bem… essa eu só ouço falar no Carnaval ou em algum grande evento na Bahia (a.k.a. Carnaval de novo). E Daniela Mercury, que é a Elba Ramalho da próxima geração. A noite valeria mesmo pelo programinha alternativo outdoor com a pequena, já que a gente dá risada até do lado de fora de show de banda irlandesa. Fizemos nosso pit stop no McDonalds e em seguida fomos encarar o programa. A Debs não conhecia o Credicard Hall, e pela ida ao dito o passeio já teria valido a pena, dado que aquele lugar é de fato muito legal. Chegamos, demos uma tateada na pista, que estava bem sossegada, em seguida resolvemos ir às cadeiras superiores, dado que entre esforço e preguiça, a opção da pequena é sempre pelo mais confortável. E após comprar um saco de pipoca e uma coquinha, estávamos prontos.

Uma breve apresentação da diretoria (sim, festa da firma é festa da firma) depois, e surge a primeira atração. Maior nas fotos e nome de maior projeção entre as quatro, Daniela Mercury adentra ao palco e rapidamente nota-se ali um erro de trajeto. Aquela voz não era pra Chico Buarque. Aquelas cacarejadas vocais típicas de trio elétrico não faziam sentido. E aquela falsa emoção dava a entender que seríamos massacrados, caso o tom do show fosse de fato esse. Pra nossa sorte, o martírio durou apenas 4 músicas.

Veio Roberta Sá. Toda correta, bonitinha e até tímida, mas com uma voz limpa, correta e gostosa. Chico estava salvo, e a moça levaria em frente aquele show, que mais do que nunca nos era uma dúvida: o que seguiria dali em diante? E Roberta cantou 3 músicas, sendo a última com Daniela, que estranhamente se chegava e se esfregava na menina – coisa que faria durante o restante do show com todas as outras. E não, não era sexy. Se alguém avisou a moça que aquilo parecia convidativo à imaginação masculina, me perdoe, não foi. Foi sim vulgar, quase promíscuo. Daniela Mercury de fato não combina em nada com Chico Buarque.

Era a vez de Paula Lima. E eu não conhecia nada dela mesmo, nem aquela voz que parece um travesseiro, nem o jeitinho dengoso/safado que colocou fogo em quem faltava se ligar, naquela noite fria e gostosa. Alegrou o ambiente, fez o povo cantar, sambou fácil. Uma delícia de surpresa, e a naquele momento parecia que havíamos chegado ao máximo de um show ao qual não dávamos a menor bola uma hora antes, mas cujos bate-pés entregavam nossa empolgação inesperada. Ainda faltava uma. Faltava a tal da Margareth Menezes…

…que entrou no palco com uma cara de fúria, e eu não entendi o que acontecia, até os primeiros acordes de “Geni E O Zepelim” começarem. E ela cantou. E tudo fez sentido, pois eu não esperava uma voz tamanha, e tanta fúria numa interpretação. Aquela mulher era capaz de cantar sem microfone se quisesse. Um furacão. E ao final da música, os aplausos até então mais entusiastas da noite. Sim, era o ápice. Não, não era, pois em seguida veio “Cálice”, com mais fúria ainda. E com um final à capella. Explêndida. Ninguém mais lembrava do começo do show. E foi bem bonito, pois dali em diante as quatro cantaram juntas mais um punhado de músicas, em duas horas de show somadas.

O que traz a seguinte conclusão: nunca jogue fora a oportunidade de conhecer alguma coisa que possa ser em algum momento prazerosa. Ignorar, só na evidência de mico. Os tais 150 anos da Caixa me trouxeram duas pulgas a serem descobertas e desbravadas aqui coçando: Paula Lima e Margareth Menezes. E uma barata, chamada Daniela Mercury, que merece uma bela de uma chinelada.

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Apesar da demora, acho mais do que necessária a resenha sobre o show do Slash – uma vez que eu tive em mente algum dia escrever sobre o dele E o do U2, que aconteceram na mesma semana. Mas no segundo a tentativa tardia de acompanhar não deu certo. Então, vamos àquilo que de fato eu vivi.

Começando pela escolha do lugar. O HSBC Brasil é um lugar isolado. Meio bizarro até, pois não tem estrutura de apoio para um show desse tipo (e de nenhum outro). A casa em si comporta, apesar de pilastras no caminho e alguns obstáculos estruturais. Mas o entorno é um prato cheio pra flanelinhas, e meus 40 Reais pagos a um deles deixou saudades e um gostinho amargo logo no início da noite.

Fomos eu e a Mel no dito, e assim que entramos, o show estava começando com “Ghost”. Lugar lotadíssimo, mas um som muito bom. Três câmeras no palco, sendo uma delas exclusiva para o protagonista da festa. Depois de três músicas levando cotovelada, a gente desistiu e se conformou em tomar cerveja na entrada da sala enquanto ouvíamos o show. Porém, após comprar nossos copos, um segurança que deve ter vindo de algum lugar do céu perguntou:

– Vocês não estão conseguindo ver nada daqui né?
– Como você pode notar, não…
– Então venham que eu vou colocar vocês num lugar melhor…

Ok né? E em questão de segundos fomos acomodados no meio do camarote, que corresponde a assistir ao show de lá do fundo com meio metro de altura de vantagem em relação à pista. Perfeito. Explicar o contexto ajuda a entender o show, e sim, nosso contexto que parecia fadado ao fracasso foi arrebatado por um puta golpe de sorte. E assim sendo, ao show:

Slash montou uma puta banda. Myles Kennedy é um vocalista que não deve em nada aos monstros que já acompanharam o cabeludo durante a carreira. E assim sendo, era uma questão de repertório e receptividade da plateia – o que nesse país, convenhamos, dificilmente é um problema. E as músicas seguiram em parte o repertório tocado no Rio, na noite anterior. Porém, tivemos surpresas. Gratas surpresas. Ganhamos “Beautiful Dangerous” de bandeja, numa versão tão foda quanto à do disco. Não faltaram as pancadas pra lá de aguardadas. Derramaram “Mean Bone”, “Back From Cali”, “By The Sword”, “We’re All Gonna Die”(cantada pelo baixista), e a espetacular “Dirty Little Thing” sem grandes pudores, e o lugar virou uma sauna. A besta “Watch This” foi serpenteada sem dó, e ganhou novos ares aos meus ouvidos. E obviamente, os momentos de tranquilidade não foram esquecidos, com “Starlight” e “Fall To Pieces”, que foi magnífica.

E ele, o protagonista, se diverte como eu ainda não havia visto. Já assisti seus shows com o Guns N’ Roses e com o Velvet Revolver, e nada se compara à alegria que ele demonstra nesse vôo solo. O que é ótimo, visto aos olhos de seus fãs (me incluo), e mina completamente as expectativas daqueles (ainda existem?) que sonham ver uma formação original do Guns N’ Roses de volta algum dia.

Guns que se fez presente sim no show, em “Civil War”, “Nightrain”, “Mr. Brownstone”, e obviamente, em “Sweet Child O’Mine” (cantada a plenos pulmões por absolutamente TODOS os que estavam no lugar, e aquela cena foi absolutamente incrível) e “Paradise City”, que fechou um show apoteótico. Slash não aliviou nos solos, na performance, nas dancinhas e até com o público, com quem por diversas vezes fez questão de conversar. Não havia ali a responsabilidade de uma banda estelar, como o Guns N’ Roses de 1992, e menos ainda a briga de egos que é um Velvet Revolver sob qualquer circunstância. Havia sim um punhado de caras tocando suas músicas, alegres e empolgados, suando horrores, e recebendo daquele lugarzinho lotado a devida reverência que mereciam. O rock puro e denso como caras como eu gostam está em muito boas mãos.

Em novembro, pijama

fev
2011
23

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Allright.. last night was very special also… but you’re better.

Foi numa tarde de sábado, gelada. Passamos a noite no apartamento da Dani, fazendo esquenta e falando do show do dia seguinte. Fomos pro Pacaembu, munidos de sacos de sanduíches de pão Pullmann, blusas de frio e uma puta empolgação dos infernos. Eu, Dani, Bibi, Thiagão, Brinco e Tarmann. Todos pro gramado, aquele céu cinza ameaçando chover, naquele horário estranhíssimo de fim de tarde. E às 19h, os cinco sobem naquele palco que de tão simples parecia pobre. E durante duas horas, todos cantaram a plenos pulmões. Choraram, berraram, pularam com tanta música boa, com uma banda tão redonda, com um som fodidamente acertado. Aquele vocalista bêbado e mendigo, que num fluente português embriagado nos saudava a cada música. E era só festa… ninguém lembrava mais de frio, de aperto e de porra nenhuma. Daquelas duas horas que voam de tão boas, e que quando terminaram eu lembro perfeitamente do Tarmann vindo falar comigo: “acho que foi o único show da minha vida em que eu cantei TODAS as músicas”. Te entendo mestre. E agora, eu fico feliz em dizer isso:

– Bem-vindo, Eddie. Nos vemos em novembro, novamente.

Thank YOU, Paul…

dez
2010
03

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Foram necessários alguns dias para assimilar um pouco do que de fato foi viver os dois shows do Paul McCartney. E após tudo o que se passou e se sentiu, a conclusão é óbvia: não dá pra traduzir num texto. Então, dane-se. Vou escrever aleatoriamente sobre alguns momentos, uma coisa aqui, outra ali, e registrar sem a menor pretensão de fazer disso um documento que ateste que todo aquele frenesi e excitação se justificaram a cada nota tocada pelo sujeito e sua banda. Não sejamos tão óbvios…

O domingo começou com a ansiedade que já se arrastava dias antes, e teve sabor de vinho pra segurar o nervosismo. Saímos de casa no meio da tarde pra encontrar Natalia e Sarah pelo caminho. Seguimos para o Morumbiba, e após uma entrevista falsificada que concedi à Rádio SulAmerica, chegamos àquele verdadeiro formigueiro. Nos separamos, e eu e Debs ficamos sentados na calçada, do lado oposto à nossa fila, que se misturava com outras três, e por isso mesmo, era incompreensível e impenetrável. Porém, Zeca Camargo e o Corolla (sempre um Corolla) da Rede Globo cometeram a mais propícia das infrações de trânsito, e atravessaram a calçada para que a Barbie pudesse adentrar ao panetone. Nisso, nossa fila – que começou a andar minutos antes – evidenciou-se com maravilhosas brechas, prontas a serem invadidas, e assim, furamos despudaradamente (da mesma forma que faríamos no segundo dia).

Assim que entramos, a preocupação deu lugar à satisfação por ter gastado uma grana nos ingressos mais caros daquela joça. O comparativo entre os lugares do primeiro e segundo dias evidencia a absurda diferença de visões (o que nos propiciou dois shows distintos, coisa que de fato quisemos desde a opção pelos lugares).

Sentamos e por lá ficamos, ladeados por casais mais velhos, uma certa molecada, um punhado de playboys e um incômodo fumante de charutos. O contexto geral minimizou tudo isso. Às 21h, os (enormes) telões laterais começaram a exibir o mix de imagens da vida de Paul e dos Beatles, ao som de um remix dos mais simpáticos de músicas dele e dos besouros. E assim foi durante a meia hora seguinte, até o momento em que as luzes baixaram linda e sutilmente, até o palco em tons roxos ser a única coisa iluminada naquele local. Meu coração acelerou de uma forma absurda, e eu berrava a plenos pulmões, crente que após duas músicas já estaria afônico. McCartney aparece. E o que mais se vê são pessoas chorando e gritando. Eu chorava, muito. E aos primeiros acordes de Venus And Mars, eu entendo perfeitamente o que significa estar em frente a um beatle. Vieram Rock Show e Jet, que me fizeram voltar a ter 12 anos e pular feito uma criança, que gosta muito mais da bagunça do que da música propriamente dita. O choro não cessava. Debs ria da minha cara descontrolada, enquanto a namorada de um cara ao meu lado fazia o mesmo com ele. Meu amigo nas 3 horas seguintes foi uma companhia excelente, no que se diz respeito à histeria e entendimento do que estava acontecendo ali.

Veio All My Loving. O Morumbi pulsava. Era Beatles, ao vivo. E eu aqui, quatro dias depois, escrevendo isso com lágrimas nos olhos. Foi lindo, lindo mesmo. E em Letting Go, uma música que eu acho bem chatinha, entendi que de fato era necessário um freio naquilo tudo e Sir Paul deve ter colocado essa música de propósito na sequência, caso contrário metade daquele povo não sobreviveria até o final do show. Respirar era preciso. Paramos um pouco, olhamos o palco, e aquela banda perfeita, afinada, e tudo era lindo. As imagens, gigantes. Os telões – para os quais não precisávamos olhar – espetaculares. E vieram Drive My Car e Highway, intercaladas por um Paul McCartney simpatissíssimo, comunicativo, envelhecido – e por isso mesmo, ainda mais amável, pois todos nós gostamos de velhinhos simpáticos e fofinhos. Começa Let Me Roll It, e eu volto a chorar e cantar a plenos pulmões uma das letras mais fáceis e bonitas do universo. Paul vai pro piano, e em frente a uma projeção igualmente cinzenta, desfila a maravilhosa The Long And Winding Road – segundo a Jan e por mim endossado, a música mais triste de todos os tempos. A alegria geral volta em Nineteen Hundred And Eighty Five, com a pista toda dançando gostosamente. E eu noto que não era capaz ainda de olhar o restante do estádio, e eu nem sabia se estavam todos de fato gostando, mas o festival de sorrisos que se via por perto era uma excelente amostragem, e sim, aquele era um puta show e nós estávamos nele. Let ‘em In, com sua letra de quatro versos, é claramente a música que Paul toca pra ele mesmo – coisa que só alguém com tamanha importância pode se dar ao luxo de fazer: colocar no setlist algo que lhe dê prazer, mesmo que não seja uma música de arena. Paul sorri, canta feliz, a música vai baixando e todos aplaudem. Todos entendem. Vem então o set romântico. My Love, I’ve Just Seen A Face, And I Love Her e a irretocável e tocante Blackbird, com o backing vocal de 64 mil pessoas.

E após alguns açúcares, Paul dedica Here Today a John Lennon. A música com letra triste e saudosa, mas que não comove “como deveria”. E então começa o show de alegria de Abe Laboriel Jr, o baterista competente e simpatissíssimo de Sir Paul. Assim como o frontman, ele leva o público na palma da mão, diverte, cativa, e a gente acaba ficando com um peso na consciência de por vezes desviar os olhos de McCartney pra ver o que o rapaz anda aprontando na bateria. Mrs. Vandebilt começa e o “Ho, hey ho” que dá o tom da música é entoado por todos. Novamente o Morumbi vira uma pista de dança, e ninguém resiste a mais um clássico do Wings. Nova quebra, com Eleanor Rigby. Vários choram. Tento ligar pra Bibi, mas não deu dessa vez. E chega a vez de Something, pra George.

E então eu olho pro cara do lado, e a gente olha pro telão, e a música é cantada debaixo de fotos maravilhosas do beatle saudoso preferido deste que vos escreve. E a Debs se emociona, e eu também, e o cara, e aí sim a homenagem é assimilada e emociona todo mundo, e é daqueles momentos lindos, perfeitos, que a gente nunca mais vai esquecer. Something agora é definitivamente a música dos amigos Paul e George. Ponto altíssimo do show. Eu achei que nada mais pudesse emocionar daquele jeito. Sing The Changes não emocionou ninguém, soou até meio yankee demais, deslocada no show. Não comprometeu, mas será esquecida. Começa Band On The Run, e minha garganta só não é mais exigida que meu sorriso. A Debs demonstrava alguns sinais de cansaço, e eu estranhando que minha voz ainda não sumira, cantava o mais alto que podia. E eis que então o moço chama a todos para cantar a música a seguir, e a até aquele momento bobinha e idiota Ob-La-Di Ob-La-Da transforma o estádio numa verdadeira micareta. Uma loucura, absurda, uma alegria plena e ninguém ali escondia mais a satisfação que era aquilo tudo. Sorrisos pro alto, risadas altas, vozes e vozes, e os Beatles novamente me pareciam ainda maiores do que eu imaginava. Mais um momento perfeito. E ainda tinha mais.

Porque veio Back In The USSR, e aí eu vi a pequena pulando e cantando loucamente na minha frente (assim como eu, óbvio), pra minha alegria e vendo que sim, eu não estava sozinho na histeria descontida. Seguiram-se I’ve Got a Feeling, com Paul não medindo esforços em se esgoelar e desafinar assumidamente (e quem se importa com isso?), e Paperback Writer, que novamente botou o povo pra dançar. Eis que então acontece o momento que teria tudo pra ser o mais cafona do show, e longe disso, arrebentou com todos: A Day In The Life, que é uma obra-prima incontestável, cantada daquela forma depressiva que lhe caracteriza completamente, emendada com Give Peace A Chance, onde fez-se sobre nossas cabeças um mar de balões brancos. Uma catarse, um exército de sorrisos, a mensagem da música escancarada noite adentro, onde nada mais importava nessa vida além de contemplar um momento como esse. Mais lágrimas. Muitas, e muita voz ainda, pra gritar alto aquilo tudo.

E aí aconteceu uma coisa que só poderia acontecer no show de um Paul McCartney da vida:

Veio a sequência Let It Be, Live And Let Die e Hey Jude, pra matar qualquer um do coração. Na primeira, transformaram o gramado e arquibancadas num céu estrelado, além das mãos pra cima naquela coreografia padrão e bonita demais, quando feita por tanta gente ao mesmo tempo. E veio Live And Let Die. Cantada a plenos pulmões, punhos pro alto, socando o ar e exorcizando demônios com toda a energia que me parecia possível. Eis que quando ele simplesmente anuncia “say live and let die…“, acontece ISSO:

A foto é do dia seguinte. Mas alguém liga pra isso?

E aí meu amigo, o que se seguiu naqueles 3 ou 4 minutos seguintes foi o maior acesso de descarrego musical que eu já vivi. Foi absurdo. Surreal. Poderoso. E Paul fez Axl parecer um cantorzinho de MPB de boteco com aquela versãozinha até então boa, tal a intensidade daquele verdadeiro míssil. Cessaram os fogos, o som, e minha alma estava limpa, purificada. Eu já poderia ir pra casa. Mas não fui, e cantei Hey Jude, no coral mais bonito que aquele estádio já abrigou. Hey Jude foi a música que quando pequeno, me abriu os olhos pela primeira vez para aquele senhor inglês. Aquele “na na na naaaa” hipnótico me emocionou quando criança, e lá estava eu, vivendo aquilo de dentro. Que coisa absurdamente mágica. Que poder esse cara tem pra fazer uma coisa dessas? Acabou. Eles foram tomar uma água. Eu não sabia o que dizer.

Eles voltaram. Bandeiras do Brasil e da Grã-Bretanha. Nada de tempo pra descanso. Day Tripper e Lady Madonna trouxeram mais Beatles e mais um pouco de energia a corpos que já estariam esgotados há tempos. Mas dançamos, cantamos, e foi novamente lindo. Mais uma água pros moços. E eles saíram, e voltaram.

E veio Yesterday. Somente Paul, somente um violão. E novamente ninguém ousou cantar mais alto que Paul. Mas eram 64 mil, e aquilo parecia uma missa, com todos sabendo cada palavra, e lá foi ela, linda e calma, pras nossas memórias. Já não havia mais forças pra continuar aquilo, mas surge Helter Skelter. E foi um orgasmo. Sim, havia algo ainda a ser mandado pro inferno, e foram-se todas as forças pra isso. Berrada, vivida na alma, música boa da porra. E Paul se despediu: “agora vamos embora”, ele disse. E rolou a saudade instantânea. Mas ainda vinha a maravilhosa, clássica, fodida Sgt Pepper’s Lonely Heart’s Club Band para anunciar o verdadeiro final. Últimos solos, últimas brincadeiras. Chega The End. And in the end, the love you take is equal to the love you make. Luzes. Aplausos. Muitos aplausos. Aconteceu mesmo, e nem mesmo aquela saída desastrada e uma cambota desajeitada tiraram Sir Paul McCartney do trono. Sim, foi o show da minha vida. E foi também o de muita gente que saiu do Morumbi aquela noite sabendo que a vida é sim muito melhor quando você concretiza um sonho. Um sonho tão grande que parece impossível. Mas aconteceu, e eu sonharia de novo na noite seguinte. Se existe mesmo um Deus, alguém a se agradecer por certos dons, eu agradeci sim: pela minha vida, e por alguém, algum dia, ter deixado esse sujeito pegar num violão, num baixo, numa guitarra, e dali em diante mudar simplesmente tudo o que a gente hoje em dia conhece como música – essa coisa que todo mundo gosta, e que ninguém é capaz de explicar. Eu não sou capaz de explicar o que foi a noite de 21 de novembro de 2010. E sou muito, mas muito feliz mesmo por isso.

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No dia seguinte, chovia.

Acordamos arrebentados. Eu, não como imaginava. A Debs, sim. Cada um foi encontrar com sua mãe, e juntamos todos na casa da sogra por volta das 16h. Capas de chuva nas mãos, voltamos ao Morumbi. E novamente, nada de fila. Entramos rápido, sentamos em cadeiras ensopadas na arquibancada vermelha, e por lá ficamos até a chegada dos pais da pequena. Éramos seis: esposa, mãe, sogros, cunhada e eu. E chovia, e parava, e chovia. E algum engraçadinho resolveu colocar pra tocar no estádio Who’ll Stop The Rain?, do Creedence. Gargalhadas… não tinha jeito mesmo. Foi assim comigo em 1992, no molhado show do Guns N’ Roses. Depois no Helloween. Seria assim no Paul. Às 21h10 começou novamente a projeção. A chuva parou, e não voltou mais.

Pensem o que quiserem. Eu tenho minhas ideias sobre isso.

Às 21h40, lá estava ele de novo. Dessa vez via telão, dessa vez seria assim, e eu curtiria metade olhando pro show, metade olhando pra minha mãe. E assim foi, dessa vez menos emocionante, mais assimilado, mas algumas lágrimas surgiram sim, algumas vezes. Os pais atrás, os filhos na frente, veio Magical Mistery Tour, linda e colorida, pra começar o show. Eram lágrimas inéditas, e vieram. O que se seguiu dali em diante foi o show visto de cima, com intervenções semelhantes, e um ou outro improviso. Quatro músicas diferentes (Two of Us, Got to Get You Into My Life, I’m Looking Through You e Bluebird), além da já citada Magical Mistery Tour deram novos ares à apresentação do sujeito. Mas o novo ponto de vista trouxe também novas sensações, e percepções, como o universo todo do estádio reagindo àquilo tudo, nossos pais curtindo o moço e cantando junto, e da mesma forma, foi impossível não cantar tudo aquilo de novo, com energia um pouco mais baixa, mas igualmente intensa. Live And Let Die vista de longe foi igualmente impressionante. Let it Be fez muito mais sentido dali de cima. Foi mais fácil ser racional, e dali em diante ver se tudo aquilo que acontecera 24h antes foi de fato real. Foi. Mesmo. Ver minha mãe chorosa e feliz, curtir com ela, ver minha pequena ali pulando de novo (um pouco menos, é verdade, porque o cansaço era grande), e fotografando loucamente o show das nossas vidas… isso tudo a gente não coloca em cifrão, em número, em nada. E é o que vale de fato.

As caras de cansaço e alegria de todos quando do final do show esclareciam um pouco mais o encantamento que nos fez embarcar na loucura de dois megashows durante o intervalo de um dia. Valeu a pena sim. Não foi loucura. Foi euforia, devidamente recompensada por 6 horas de música. Da melhor música. Aquela que embalou alguns de nossos melhores momentos, e que agora ganham roupagem nova, e mais momentos pra não se esquecer.

O que dizer?

nov
2010
21

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Esperei minha vida inteira por esse dia, sem brincadeira. E agora, 0h56, assistindo choroso esse rapaz cantar “Maybe I’m Amazed” na TV aqui da sala, e saber que daqui a exatas 24 horas eu estarei me despedindo da primeira de duas noites na companhia desse cara, eu preciso sim soltar um pouco da ansiedade que me conduz por aqui. É incrível, absolutamente surreal sentir o que estou sentindo. É maior que qualquer palavra. Nó na garganta, coração acelerado, estômago embrulhado, falta de sono… tudo faz muito sentido, se justifica a cada música desse sujeito. Nunca imaginei que um sonho tão audacioso, até mesmo pretensioso – sim, um beatle, O beatle, aqui ao lado de casa, e eu lá, de frente pro cara? Nunca vai acontecer…! – se realizaria. Eu sonhei em casar, sabia que um dia seria possível. Paul McCartney nunca foi certeza, longe disso, e por isso mesmo a emoção e a realização são sim maiores. Pode parecer absurdo pra quem está de fora, mas pra quem não está sabe-se muito bem o quanto se justifica.

Não sei o que serão amanhã e segunda. Estou em completo transe, eletrificado, ainda não acreditando que esse dia tão distante de tudo o que eu imaginei ser possível chegou, está acontecendo, e vai terminar com Paul McCartney agradecendo à minha também presença. Então foda-se a redundância, o fanatismo, foda-se tudo. Cheguei aqui e agora posso dizer: estou curtindo cada segundo desses próximos dois dias, que prometem ser absolutamente inesquecíveis na minha vida. E estou feliz, mas MUITO FELIZ MESMO de poder viver isso. Se eu tiver que agradecer a quem quer que seja nesse exato momento, saiba, estou agradecendo. Ao meu pai, que me iniciou nessa loucura, à Yara, que me deu meu primeiro cd dos Beatles, e a todos os meus amigos que em algum momento trocaram uma palavra que fosse sobre essa coisa que ninguém explica, e quase todo mundo entende.

HOJE EU VIVEREI PAUL MCCARTNEY. OBRIGADO, MUITO OBRIGADO…

O sonho começou.

nov
2010
21

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Que meu coração aguente. Terça eu conto o que mudou na minha vida.

Um

nov
2010
20

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Dois

nov
2010
19

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Três

nov
2010
18

escrito por | em Música | Nenhum comentário